quinta-feira, 27 de maio de 2010

Glue*


Mesmo com o relativo acesso que temos a cinematografia Argentina, alguns filmes e diretores acabam passando rapidamente por nossas terras sem que se dê a devida atenção. Glue, do cineasta Alexis dos Santos, merece destaque, já que traz um cinema jovem, que embora tenha sido bastante explorado nos anos 90, cria direções novas e se abstém de qualquer julgamento sobre as ações do protagonista, criando uma câmera livre em que a impressão que temos é que o personagem vai se descobrindo ao mesmo momento que vamos descobrindo ele.

Nascido em Buenos Aires, em 1974, mas criado na Patagônia, Alexis se dedicava ao estudo de Arquitetura e Interpretação em sua cidade natal antes de se mudar para Londres, onde estagiou como diretor na Escola Nacional de Cinema e Televisão. Para filmar seu primeiro longa-metragem, o cineasta retornou às suas origens, criando uma obra voltada para o mundo adolescente no meio do nada, um mundo que ele próprio conhecia tão bem. O roteiro de ‘Glue’ consistia unicamente em um enredo com 17 páginas, sendo que a grande maioria das cenas foram improvisadas. Ao escolher esse tipo de processo criativo, o diretor buscava um nível elevado de autenticidade e desembaraço nas atuações, principalmente dos jovens.

O filme, que estreou em 2 de fevereiro de 2006 no Festival Internacional de Rotterdam e conquistou diversos prêmios, tem traços dramáticos e também de comédia, e se passa em uma pequena cidade na desértica Patagônia. Lucas, com 15 anos de idade e em plena fase de ebulição hormonal, passa seu tempo com os amigos Nacho e Andrea, dividindo experiências e vivências do que é ser adolescente em uma pequena cidade argentina e em pleno verão. Sua vida familiar é bastante conturbada, e como forma de escape, o personagem principal do filme tem grande fascínio por situações simples do cotidiano, como sua relação com os amigos e com a música. A trilha sonora foi criada pela banda de rock norte-americana Violent Femmes (http://www.vfemmes.com), surgida em 1982 e ainda em atividade.

Escrito e realizado por Alexis dos Santos, são as suas lembranças que marcam a temática e enfoque para o desenrolar da história. A partir da inspiração na própria adolescência do autor, o jovem elenco teve grande liberdade para improvisar, com atuações brilhantes e que trazem maior carga de realidade ao filme. Apesar dessas caract erísticas próprias que o entornam, ‘Glue’ pode ser captado e entendido como um enredo universal, pois trata de um período marcante para todas as pessoas de qualquer região, e de uma maneira bastante comovente.

Através de narrações em off em algumas partes, quase todo o caminhar do filme é intercalado entre momentos de solidão dos personagens com um certo grau de melancolia e dúvida, e outros de cumplicidade e descoberta da amizade, típicos da fase de transformações por que passam. Esses traços aproximam a obra de Alexis a outras realizações recentes do cinema latino-americano, como “E tua mãe também”, de Alfonso Cuarón, e “Temporada de patos”, de Fernando Eimbcke, por sua realidade bem como a atmosfera intimista, em retratos juvenis bastante consistentes. A utilização de diversas imagens feitas com a câmera na mão também leva o filme numa direção em voga atualmente.

‘Glue’, que ganhou na Argentina o subtítulo “Historia adolescente en medio de la nada”, é, sobretudo, um filme de visões singulares, seja pela carga pessoal presente no roteiro, ou pelas atuações que explicitam muito do próprio ator em sua representação. A fotografia também acerta em cheio ao se utilizar de cores próprias para cada situação, como ao mostrar o verão de maneira mais avermelhada, quase que numa tentativa de retratar a luminosidade exata do sol.

O filme tem 110 minutos de duração e foi gravado principalmente com cenas em DV, e algumas em super 8, posteriormente passadas para 35 mm. Asissta ao trailer: http://www.youtube.com/watch?v=hl1Ikv6O5Ig

Myspace do diretor Alexis dos Santos: http://www.myspace.com/lazystranger


Filmografia:
1997 – Meteoritos (17 min.)
1999 – Axoloti (16 min.)
2001 – Sand (20 min.)
2006 – Glue
2009 – Unmade Beds:
Com estreia mundial no Sundance Film Festival, conta a história de Axl e Vera, que acabam se encontrando ao vagarem por Londres enquanto tentam superar seu passado. Axl (Fernando Tielve) quer encontrar seu misterioso pai, de quem não tem notícias desde a infância, em um cotidiano de bebedeiras, festas e relacionamentos nada duradouros. Vera tenta esquecer uma desilusão amorosa, vivendo a frieza e o estranhamento de uma cidade grande. Dando forma a tudo isso, uma trilha sonora ligada ao indie rock, com performances ao vivo e cenas em clubs cinzas e barulhentos.

Prêmios:
Rotterdam International Film Festival - 2006
Prêmio MovieZone Por ‘Glue’

Nantes Three Continents Festival – 2006
Prêmio da Audiência Jovem Por ‘Glue’

San Francisco International Lesbian & Gay Film Festival - 2007
Prêmio Melhor Estreia Por ‘Glue’

Torino International Gay & Lesbian Film Festival - 2007
Prêmio Especial do Júri Por ‘Glue’

Montreal Festival of New Cinema – 2009
Quebec Film Critics Award – Menção Especial Por ‘Unmade Beds’

Ficha técnica:
Glue
Argentina – 2006 – 110 min – Drama – Cor – Espanhol/Inglês


* Release para a Mostra de Cinema Zona Livre 2010, no CCBB-RJ

Nenhum comentário: