domingo, 4 de outubro de 2009

Stand-up Drama

Eu realmente começo a me preocupar mais com o mundo quando vejo que:

- Marcos Mion ganha um prêmio!

Ok, foi dado pela Mtv, lar deste e outros anencéfalos juvenis ao redor do mundo. E pelo que o Marcos Mion foi reverenciado: Pelo seu "twitter". Nossa, isso vai ficando mais perturbador. Aliás, eu deveria começar a me preocupar ainda mais com o mundo quando:

- Milhões de pessoas passam o dia conectadas a este programa de computador totalmente livre (e a liberdade total dá frisson por si só), alimentando o ócio não-produtivo, o sedentarismo e outras mazelas produtoras de estrias;

Ou seja, essas milhões de pessoas estão ali apenas para escrever e ler/bisbilhotar o que quiserem, e às vezes não querem, em tempo real durante o dia todo. Muitos defenderão os benefícios do mesmo quando utilizado de forma inteligente, porém, não consigo mensurar a quantidade de frases e pensamentos inúteis que tomam vaga nesse universo global de twitters. Só para não deixar o Marcos Mion sozinho, apesar de ele merecer: Luciano Huck tem um dos twitters mais lidos do Brasil (quiçá do mundo). Pausa.

Mas, bem, há salvação para todos e tudo é imagem, justificava-se a mulher do bispo agraciado por seus fiéis com um carro novo. Daí, eu penso que deveria começar a me preocupar um pouco com o meu mundo:

- Vou tocar na noite - diz um conhecido, talvez convidativo ou apenas tentando se mostrar.

- Legal - retruco. - Tu toca o quê? Guitarra? Baixo?

- Não, eu sou dj.

Se colocar o cd de uma banda e apertar o play é "tocar", então o cara que só faz "stand-up comedy" tem toda a razão de se autodenominar ator. Jornalistas não precisam mais de um diploma para atuar, apesar de toda a responsabilidade social que carregam; por que palhaços deveriam? Aliás, o mundo jornalístico-capim tem me comovido, no mal sentido:

- Dia desses, um apresentador de tv gaúcho se referiu a um rapaz que estava sendo autuado pela polícia, e era pobre, logicamente, da seguinte maneira: "Esse aí não tem mãe, é filho de chocadeira".

Como um ser com a mínima formação acadêmica, bem-remunerado e dito porta-voz da sociedade, utiliza esse tipo de linguajar ao se referir a um cidadão, ainda que no uso controverso do termo, provavelmente um réles ladrão de galinhas? Será que ele usaria tal palavreado chulo para denominar, por exemplo, a atual governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, acusada de receber verbas ilícitas de campanha? Creio que não, apesar de, assim como no caso dela, não haver veredicto jurídico que comprovasse a infração do tal sujeito. Um pouco de Kant e ética não faz mal a ninguém.

São pueris banalidades que aglomerei aqui para tentar esquecer minhas maiores preocupações, aquelas que dizem respeito à minha pessoa, meu íntimo, meu umbigo e par de pernas. Eu, eu mesmo, o cara que, como você, tem diante dos olhos apenas aquilo que pode enxergar. Pois o que eu não conheço, logo, não existe. Mas eu tenho um conhecimento acerca da imbecilidade que me preocupa deveras, e eu não quero saber que existe um Marcos Mion de ego infla(ma)do, um Dado Dolabella milionário, ou a minha vizinha louca que sai à rua chamando por seu gato fugitivo às 4 horas da manhã - deixem-me em paz! Mas o que posso fazer, se sou parte e fruto do meio em que vivo?

Por crer que minhas ações provém de relacionamentos muito mais do que de eventos externos, não vou matar, não vou me autoexilar. Não vou virar Travis Bickle. E, mantendo pernas na esfera cinematográfica, creio que eu deveria agora pegar meu cannoli, limpar a merda dos sapatos e começar vida nova na Bolívia.