domingo, 30 de dezembro de 2007

Casa do Artista Riograndense pede ajuda*

Sem receber apoio governamental, o Lar de idosos sobrevive de doações


Fundada em Setembro de 1952 para abrigar artistas gaúchos desamparados, a Casa do Artista Riograndense tem enfrentado inúmeras adversidades para se manter ativa ao longo desses anos todos. Não existe nenhum tipo de incentivo legal vindo de entidades governamentais, e o único meio de subsidiar todas as despesas que o local exige é através de doações da comunidade a algumas ações da diretoria, como realização de shows, saraus, entre outras coisas. Apesar de não cobrar nenhum tipo de auxílio financeiro de seus moradores, a entidade tem recebido contribuições por parte dos mesmos, que atualmente têm arcado com o pagamento da luz e da água.


Situada no bairro Glória, em Porto Alegre, a Casa do Artista serve de lar para 8 pessoas de idade já avançada, entre elas músicos, atores e pessoas ligadas ao rádio. Alguns ainda estão na ativa, como é o caso do ator e músico Zé da Terreira. Contando até hoje com um certo prestígio entre a classe artística, Zé vive em constante movimentação criativa, ministrando oficinas para os jovens, participando de realizações teatrais, performances e shows musicais. Teve um cd lançado no ano de 2002 através do Fumproarte, intitulado “Quem tem boca é pra cantar”. No seu currículo ainda é possível descobrir diversas atividades marcantes, como sua participação na peça “Hair”, que foi montada em 1969 no Rio de Janeiro e tinha no elenco Sônia Braga, Ney Latorraca e outros atores de renome nacional. Morando da Casa desde o ano de 2001, Zé mostra-se contente com o funcionamento da rotina dentro da Casa: “Aqui dentro não há controle, não tem alguém que mande ou interfira na individualidade da pessoa. Cada um prepara sua própria refeição e se organiza da maneira que preferir. Há liberdade total”. Mesmo assim, acredita que é possível gerar uma infra-estrutura mais favorável aos moradores. “A gente tem que ir atrás de recursos, cada melhoria que conseguirmos trazer aqui pra dentro é uma vitória enorme”, enfatiza Zé, enquanto se prepara para realizar mais uma atividade fora da Casa.


De acordo com o diretor da entidade, Darcílio Messias, entre as principais dificuldades enfrentadas para a manutenção da Casa do Artista está o fato de não haver uma renda regular, uma vez que as doações e verbas conseguidas são escassas e nem sempre conseguem suprir todas as dificuldades financeiras. “As últimas direções que nos sucederam negligenciaram na suas relações com os poderes públicos municipal e estadual e a Casa passou por momentos de dificuldades extremas”, afirma Darcílio. Segundo ele ainda, a ajuda de órgãos governamentais traria enormes benefícios à sociedade, visto que o local é um bem de todos. “Essa relação com os governantes vem sendo retomada e, embora ainda não tenha resultado numa ação mais concreta por parte das autoridades, algumas tratativas já começam a ser esboçadas. Mas, por enquanto, muito pouco tem sido feito”, diz o diretor. A comissão de diretoria é sempre nomeada pelo Sindicato dos Artistas, e entre os antigos diretores da Casa está o diretor de teatro Dilmar Messias e o professor Dante Barone.



*Não lembro onde saiu isso, nem quando. Mas a casa ainda está lá.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Para agradar meninas indecisas

As intenções dos caras que eu conheço quando saem à noite são sempre as melhores possíveis: Transar e se drogar. Realmente não há coisa muito mais excitante a se fazer, mesmo se você é rico e pode brincar de tiro ao alvo com os móveis da casa. Ou com seus pais. Nesse caso, é melhor roleta-russa, porque daí se der merda é vontade divina. Tédio é pior do que ressaca. Por isso eu bebo, pra não virar psicopata. Certa vez, quando eu tinha lá por uns 11 anos, meu tio Jorge me falou algo que transformou o mundo em que eu vivia num lugar muito mais próspero e feliz de se habitar: “As gurias pensam em sexo tanto quanto os guris, só que elas não falam”. Uau. Era tudo que eu precisava ouvir àquela altura da vida. Eu nem sabia de que jeito se chegava a um orgasmo, mas como convencer uma menina a transar era a questão que mais importava na minha breve existência (as coisas não mudaram tanto). Muito menos me ocorria a idéia de que, em algumas situações, quem deveria ser convencido era eu. Me levar pra cama naquela época teria sido a maior barbada do mundo (realmente as coisas não mudaram tanto).

A vida parece algo muito divertido quando se tem 11 anos. Minhas únicas preocupações eram atingir o Nirvana (a banda, lógico), completar o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro e fazer ligações a cobrar para as freiras do Mãe Admirável, colégio responsável pelos traumas mais marcantes na criança que eu era. A começar pelo nome ridículo: Mãe Admirável. Foi nessa época que aconteceu minha primeira desilusão amorosa. Eu era apaixonado pela Caroline, e durante uns dois anos ela me engambelou de uma forma que daria inveja a qualquer publicitário renomado. Famoso cu doce. Pra piorar, o irmão mais velho dela me batia e a guria dava risada. No outro ano, quando nos separaram de turma, eu me irritei. Decidi que não ia mais correr atrás e comecei a tratá-la com indiferença. Foi então que tudo mudou. Nos intervalos, ela me seguia com os olhos, dava sorrisinhos e vinha puxar assunto. “Piranha”, pensava eu, enquanto reparava que após todo esse tempo a menina agora desenvolvera os seios.

Sem querer, junto com meu tio ela acabou sendo de extrema utilidade na construção de um perfil rude e simplório das relações intersexuais, que me acompanharia por um bom tempo ainda: “Homens e mulheres podem ter os mesmos tipos de interesses, porém quando um percebe o interesse do outro, fode tudo”. Na minha cabeça, ambos gostavam de sofrer, de dificultar, vide meus pais. Lembro da melancolia que senti quando ouvi pela primeira vez “The long and winding road”, do Paul McCartney, e estava tudo ali, tudo que eu queria ouvir e dizer. Rezo pra ele todas as manhãs. Quando o Paul cantava “You left me standing here a long, long time ago. Don’t leeeave me waiting here, lead me to your doooooor”, por algum motivo meu peito ficava apertado e eu sabia que ainda haveria tristeza o bastante pra mim. A luta desde então tem sido me desvencilhar ao máximo de mim mesmo e de qualquer forma de sentimentalismo exacerbado. Tem sido duro. Devia ter virado padre. Pedofilia é muito menos desgastante, basta comprar um chocolate e correr pro abraço (literalmente).

Adoraria poder dizer o quanto hoje eu me sinto maduro e hábil com relação a essas bobagens todas, mas se parece muito com ontem. O pior é crescer e descobrir que tudo que se aprendeu sobre amor e felicidade estava terrivelmente fora de contexto. Você vira um Pac Man à procura de qualquer satisfação barata e a única forma de se sentir acolhido é num inferninho do Centro, dizendo pra puta: “Quero gozar na cara”. Nunca paguei por sexo, não sou normal. Tenho problemas comigo mesmo, admito, ouvi Sonic Youth por anos a fio e imagino em toda mulher a Kim Gordon (deve ser por culpa da microfonia). Loira, de saia, tocando baixo e fumando. Como diria um amigo meu, “mulher que fuma, dá”.

Teorias... Há uns dias atrás, conversando com meus amigos e ídolos Carlos Hahn e Zé Pedro, surgiu no ar a constatação unânime e óbvia de que qualquer teoria sexual que tente rotular as mulheres é pura coisa de imbecil. Babaquice de criança. Tirando aquela clássica que diz que não existe mulher feia e tal... Eu gosto daquelas garotas que fazem o cara dizer “puta que pariu, eu odeio essa guria”, mas não gosto das que são negligentes, que uma hora estão contigo e no outro dia já têm outro. Gosto das lésbicas e das "lésbicas" com aspas, que ainda estão se descobrindo. Das que bebem mas mesmo assim não ficam vulgares. Das que fazem da diferença um charme, das que lêem o que eu escrevo com carinho e então escrevem de volta, mas o meu coração também reserva espaço para as patricinhas que fazem chapinha e nunca lêem nada até o fim porque precisam assistir o filme novo da Sandra Bullock no 12. Na verdade, só existe um tipo de mulher que me agrada: A que me quer. As outras eu consigo rejeitar da mesma forma. Sei lá do que eu gosto... Gosto de banheiros públicos e suas várias funções. Dormir na casa dos outros também é muito bom. Dormir olhando as estrelas. Poucas sensações se comparam a de dormir sobre um casaco na rua, ouvindo Roberto Carlos na Caiçara enquanto tu se dá conta de que o dia vai nascer logo, e as pessoas estão seguindo seus rumos e murmuram na distância, mas nada disso importa ali, porque tudo vai ser teu mesmo quando acordar.

O grande foda é que sou meio sem iniciativa quando não alcoolizado, mas no fundo até que soa legal. Aliás, eu sou legal. Nunca durmo nos primeiros dez minutos após o sexo. Nem durante. Eu me viro muito bem sozinho, os outros é que são a merda. Kim Gordon e eu já bastaríamos para que existisse Caim e Abel, maçã, serpente e etc. E também a Juliette Binoche, pra apimentar a coisa. O físico Stephen Hawking só entrou na busca da “Teoria de Tudo”, onde tenta explicar todos os fenômenos do universo em todas as escalas, porque não podia comer ninguém. Ele não saberia dizer de fato o que é preciso para agradar meninas indecisas. Nem eu. Eu não entendo de teorias, então tento a prática. Os mecanismos que unem e separam as pessoas são mais complexos que o cosmos, porque o sexo é a mola propulsora de tudo. Só pra terminar, será que alguém tem figurinhas do Brasileirão de 95 pra trocar? Ainda me faltam as do Ricardo Rocha e do Tupãzinho pra completar o álbum.

sábado, 25 de agosto de 2007

Mais punk do que erudito



Cerveja vem, cerveja vai, e ao tentar descompassar o ritmo da conversa que já beira ao incompreensível àquela altura da noite, meu amigo Thiago comenta, enquanto larga o isqueiro sobre a mesa: “Aqui do lado de casa tem ensaio de uma banda todo sábado, no Julinho”. A bocejante resposta dada por meu corpo ao tomar conhecimento de mais um grupo de rock que surge no mundo acaba camuflada pela perplexidade de ouvir que o colégio Júlio de Castilhos, famoso por seu passado político e importância histórico-cultural, hoje cede espaço à música eletrificada. “Não, mas é banda de colégio. Banda marcial”, retruca ele, voltando-se ao copo que esquenta. “Bom, acho que já tenho uma pauta pra aula de quarta”, penso eu.

Enquanto jovens de diferentes classes sociais se aprofundam a cada dia mais nas vertentes musicais popularizadas a partir da segunda metade do século XX, como o rock n' roll e seus agregados, senhores de cabelos rasos e experiência avançada vão abandonando a cena de mãos dadas a outros ritmos apagados, como a música clássica, o jazz e o blues. Creio que no meio disso estão as bandas marciais, transitando entre o popular e o erudito, a música considerada comercial e a refinada. Com seus instrumentos de percussão e sopro, de leitura mais sofisticada. Com maestro e formação semelhante às orquestras. Os uniformes dos integrantes e seus desfiles ritmados fazem parte do ritual, ou da alma das bandas marciais, muito comuns até a década de 70, assim como o whisky e o cigarro compõem o cenário de qualquer clube de jazz, muito comuns até se descobrir que é possível ser uma estrela da música conhecendo apenas 3 acordes. E o Julinho, onde entra nisso? É o que eu pretendia descobrir e, quem sabe, fazer parte.

Fazer parte da banda, é lógico. Se você descobrisse que um monte de gente ensaia e se diverte há poucos metros de distância da sua casa, não ia querer se juntar a eles? Saber tocar é o de menos, afinal grandes músicos começaram assim, influenciados pelas pessoas mais próximas. Além disso, minha intenção nunca foi fazer da música um ganha-pão, ainda mais no Brasil, e por esse motivo não me constrange dizer que todas as bandas de que eu participei acabaram no anonimato (nem tanto assim, mas soará mais triste a você, leitor). Agora eu tinha um novo instrumento a que me dedicar, não mais a guitarra e o contrabaixo elétricos, tão surrados mundo afora: O trompete. Por muitos anos, ele conduziu em mim uma força motriz capaz de invejar as mais belas garotas na luta por atenção. Até tentei tocá-lo, uma vez, mas não consegui produzir qualquer som agradável. Grande coisa. É impossível, para qualquer admirador convincente de música, não criar raízes sólidas e profundas de afeto com o famoso trompetista norte-americano Chet Baker ao desabotoar os primeiros botões de sua obra. Antes disso, porém, talvez se materialize a imagem eternizada do músico em decadência e que abusava de entorpecentes, mas isso eu encontraria em qualquer esquina, não era minha principal intenção.

Convencionar imagens e realidades tem muito a ver também com a função social da imprensa e dos veículos de comunicação em geral, e a imagem que se criou a respeito do Julinho (muito graças a ocorridos reais, diga-se) é a de que a bagunça e a desorganização imperam lá dentro e nas redondezas, como de fato acontece com todo o ensino público gaúcho. Num sábado à tarde, porém, quem impera na entrada do prédio localizado na Avenida João Pessoa são o silêncio e a tranqüilidade. À minha frente surge a presença de um senhor de cabelos brancos, por quem eu seria muito bem conduzido durante aquela visita. Conversando com o ex-aluno e ex-integrante da banda marcial do colégio, de 1959 a 1967, Renan Lisboa, épocas completamente distantes e divergentes pareciam estar se unindo. De 1972 até setembro do ano passado, quando ele e outros ex-integrantes entraram no museu do Julinho para recuperar instrumentos abandonados e retomar as atividades musicais ali, a tradicional Banda Marcial Juliana era apenas parte de uma história. Graças à vontade desses senhores saudosos, ela voltou.

O dinheiro é deles, a idéia e muito da dedicação também, mas as coisas funcionam de modo diferente agora dentro da banda. Com novos integrantes, novos instrumentos, com novas características, enfim, e isso acaba gerando um conflito de gerações. Os mais velhos querem o som da banda antiga, talvez para reviver aquela sensação do passado, mas isso é impossível. Até porque os mais novos querem tocar do jeito deles, afinal é a época deles. Eu não fazia idéia, até então, do que esperar de uma banda marcial, ainda mais uma que está recomeçando após tantos anos, num colégio público com fama de perigoso. A situação toda me lembrava aqueles filmes sobre escolas americanas do Brooklyn, em que o diretor é perseguido pelos alunos e no final tudo acaba numa boa. Acompanhado de Renan, um possível diretor perseguido, parte do passado e do presente do Julinho, de longe eu ouço a batida da bateria, e vou me animando, chegando mais perto, com a máquina fotográfica em punho, chegando perto, imaginando no barulho que se aproxima a claridade do trompete que eu almejo tocar, e torcendo para que, como nos filmes, as coisas terminem numa boa.

O que mais impressiona, nesse novo contexto em que uma parte dos alunos do Julinho se encaixam, são as dificuldades encontradas ali dentro para que a banda possa seguir em marcha. Cada integrante recebe vale-transporte para poder comparecer aos ensaios, além dos instrumentos e aulas. A maioria deles vêm de longe, alguns nem moram em Porto Alegre, e o colégio não tem renda suficiente pra bancar essas despesas. Quem arca com tudo são os ex-integrantes, que formam o conselho diretor e contam com algumas ajudas de fora. Situação ímpar se comparada com outras bandas marciais que atuam no nosso Estado, como as bandas do Colégio La Salle São João e a do Colégio Militar, ambas da capital, que contam com uma estrutura bem mais favorável. Só a AGB (Associação Gaúcha de Bandas) conta com 73 cadastradas, participando de festivais, competições, workshops. Parece muito, porém é um número bem menor do que já foi há anos atrás. Estou às costas de Renan, timidamente localizando-me dentro das instalações do Julinho. Atravessamos o pátio, chegamos na entrada do teatro, que vai surgindo vazio, vazio, até que explode. A banda está ali, e pelas próximas 2 horas eu nada mais consigo fazer além de fotografar e entrar naquele mundo.

O lugar é enorme, o palco está escuro, e ali embaixo, entre cadeiras vazias e alguns olhares atentos (ou enciumados) de conselheiros, têm aproximadamente uns 70 caras tocando. Muitos usam boné, roupas largas e tênis importados, lembrando mais a composição de um grupo de hip-hop. Outros são mais arrumados, porém a maioria deles cruza uma faixa-etária próxima da minha: 20 e poucos anos. O som da banda toma conta do ambiente, como um estádio de futebol vazio presenciando uma final de campeonato. “Como é que eu não descobri isso antes, como é que as pessoas não sabem que isso acontece todo sábado, aqui, no Julinho?’. Provavelmente em outra situação, num sábado comum, eu estaria na rua tentando achar algo divertido, ou em casa, talvez ouvindo os Beach Boys, os Stone Roses. Essa é a minha realidade, como a da maioria que eu conheço: Música pop, e não os ensaios de uma banda marcial, “bandinha’, como as pessoas chamam. Azar o nosso. Isso que se passa no Julinho é muito mais legal do que qualquer banda nova que apareça. Antigamente considerado músico do demônio, ingrediente principal de uma tríade que une putaria e entorpecentes, numa imagem dionísica ao extremo, entre outras bobagens, o roqueiro moderno toma toddynho antes de ir pra academia e ganha uma guitarra elétrica a cada dois aniversários. Ser pai de um desses indivíduos é o sonho de qualquer ser humano com menos de 50 anos. Não tem nada de inovador e transgressor nisso. Com essa banda é diferente. A coisa se inverteu, a história é outra.

Assim que o ensaio termina, ouço algumas reclamações dos integrantes ao maestro, que assume na minha mente a figura do diretor de escola do Brooklyn, porém não perseguido, mas sim companheiro dos alunos. Eles estão irritados com alguns conselheiros, que insistem na idéia de que a banda soe como era antes. “Eles querem que a gente toque como nos anos 60”, fala um deles em tom de deboche, enquanto a sala vem abaixo com as risadas. O maestro também ri, mas coloca claramente o problema: “São vocês que tocam, mas sem eles não tem banda, nós temos que conciliar os dois lados”. E a história não me soa tão passível assim de um final feliz. O medo de que os dois lados não consigam se entender me pega em cheio. Para os outros, porém, tudo isso parece ser apenas passageiro, diante de sua empolgação e da realidade que transformam com a música. Saindo dali, integrantes do presente e do passado se encontram num boteco, com divergências ou não, e fazem música na rua. Alguns trompetes, trombones e percussão sobre a mesa junto da cerveja. Essa é a imagem que fica do Julinho nesse sábado. É punk, é transgressor, vai além da simplicidade a que se está acostumado nos pequenos grandes sucessos atuais. Se fosse subterrâneo talvez não fosse tão underground quanto de fato é, escondido na cara dura do que não é tão noticiado. Azar o nosso.

domingo, 17 de junho de 2007

Um crime dissonante*


No dia 3 de fevereiro de 1984, aos 36 anos de idade, o cantor e compositor porto-alegrense Carlinhos Hartlieb fora encontrado morto dentro de sua própria casa, na Praia do Rosa, em Santa Catarina, localidade até então habitada por pescadores e pouco conhecida por pessoas que não fossem da região. Nu e tendo uma corda presa ao teto amarrada em seu pescoço, o corpo do cantor já estava em estado de decomposição, designando que desse jeito permanecia há, possivelmente, quatro ou cinco dias. Sem aguardar o resultado da necropsia e outras evidências, o delegado de polícia de Imbituba responsável pelas investigações, Haroldo Amorim Vicente, dá por encerrado o caso e define a causa oficial da morte: Suicídio. Assim os jornais Zero Hora e Correio do Povo do dia 5 de fevereiro relatavam para os gaúchos a morte de Carlinhos em suas edições com foto e matéria de capa.


Além de músico, Carlinhos era um agitador cultural incansável. Organizou os festivais “Rodas de som”, que aconteciam no Teatro de Arena, em Porto Alegre, ajudando a lançar muitos artistas iniciantes na década de 70, como Bebeto Alves, Nelson Coelho de Castro, Musical Saracura, entre outros. Se apresentou ao lado da famosa banda de rock Liverpool, tendo composto o maior sucesso do grupo, “Por favor, sucesso”, e participou do histórico disco “Paralelo 30”, que reunia a nata de um movimento recém criado no Estado: A MPG. Seu único trabalho próprio oficialmente lançado chama-se “Risco no céu”, e só chegou às lojas postumamente.


Hoje, vinte e três anos depois do acontecido, o que se sabe a respeito da morte de Carlinhos Hartlieb vai muito além daquilo que foi dito pela imprensa na ocasião. Falar em suicídio é quase o mesmo que tapar os olhos e ouvidos para tudo que já se desvendou acerca do assunto, e isso é admitido inclusive por profissionais que estavam ligados à cobertura do caso na época. "Ele foi assassinado", relatou recentemente o jornalista Wanderley Soares, ex-editor de polícia da Zero Hora. Dedé Ferlauto, repórter policial do jornal na época e amigo do cantor, fez questão de cobrir o caso pessoalmente. Foram publicadas três matérias. Nelas, levantaram-se algumas hipóteses além do suicídio. Conforme publicado na edição do dia 6 de fevereiro, tratando do sepultamento do músico em Porto Alegre, Carlinhos possivelmente não teria se matado: “Esta violência (o suicídio) não foi dele. Isso não foi bem contado”, afirmou uma das sessenta pessoas que estavam presentes no velório.


Juarez Fonseca, também jornalista da ZH em 1984, publicou um texto na contracapa do caderno “ZH Guia” prestando uma homenagem póstuma ao amigo. O conteúdo da coluna ainda era baseado na versão extra-oficial da polícia, apesar do próprio Juarez colocar em dúvida a natureza auto-destrutiva de Carlinhos: “Nunca o vi deprimido. E foram dezessete anos de convivência”. Em entrevista recente, Juarez levanta outra hipótese: “Não podemos nos esquecer que estávamos em plena ditadura militar e que Carlinhos poderia ser considerado um subversivo. Lembro que naquele tempo a polícia andava freqüentando constantemente as praias de Santa Catarina”.


No dia 7 de fevereiro, a Zero Hora publicou a última reportagem tentando dar uma explicação plausível ao que de fato ocorreu na Praia do Rosa. Após reafirmar que Carlinhos teria sido morto por asfixia decorrente de estrangulamento, conforme informou o delegado encarregado da investigação, o jornal fecha com uma informação que poderia mudar os rumos do que se sabia até então: “O resultado do auto da necropsia realizado no corpo do músico só será conhecido oficialmente nessa quarta-feira, dia 08/02”. Após isso, nada mais foi publicado a respeito. Procurados para a realização dessa reportagem, Wanderley Soares e Dedé Ferlauto não quiseram falar sobre o caso.


No livro “Carlinhos Hartlieb”, de Jimi Neto e Rossyr Berny, consta o resultado oficial do exame de corpo de delito: O corpo foi encontrado sem onze dentes e não apresentava fratura na coluna cervical – o que exclui a hipótese de estrangulamento. O próprio autor, em entrevista, compara a cena da morte a outro crime notório, ocorrido anos antes: “O Carlinhos estava com os joelhos encostados no chão e sem o pescoço quebrado, exatamente igual ao Wladimir Herzog. Ou seja, suicídio não foi mesmo”. Um dos depoimentos ouvidos conta que o suposto assassino de Carlinhos teria algum grau de parentesco com o delegado responsável pela investigação, o que fez com que tudo se resolvesse da maneira mais rápida e discreta possível. Como disse o cantor gaúcho Mutuca, primo-irmão do músico, “Ele foi morto e não temos prova de quem foi, só conjecturas. Uma linha de raciocínio clara foi estabelecida, apontando culpados, mas não podemos acusá-los”.


Muito já foi dito e pouco explicado. Além das possibilidades já levantadas, se cogita que a morte de Carlinhos também possa estar ligada a traficantes de drogas e a um marido enciumado. Rossyr Berny nos dá algumas pistas: “Nunca mais se mexeu no assunto porque ninguém quer arriscar o próprio pelego. Tem gente grande envolvida nisso, então o que nos resta é levantar hipóteses”.



*Texto feito em parceria com Térence Veras, para a cadeira de Projeto Experimental em Jornal, da Famecos-PUCRS.

terça-feira, 5 de junho de 2007

El concierto de los Rolling

Minha memória nunca foi muito boa. Esquecer nomes, rostos, datas e esse tipo de perspectivas mundanas é algo absolutamente comum para mim e, na verdade, não sei se tenho culpa, assim como os imbecis que persistem no erro de comportarem-se como melhores do que os outros (e quase nunca o são) também não têm. Aliás, creio que a inteligência e capacidade criativa sempre estiveram diretamente ligadas à simplicidade e ao bom humor. As pessoas mais inteligentes geralmente são as mais divertidas, enquanto as outras simplesmente não têm culpa de serem imbecis. Eu não tenho culpa se minha mente resolveu esconder um bocado de fatos ocorridos a partir do momento em que as luzes se apagaram no Estádio Monumental de Nuñez e, poucos segundos depois, Keith Richards surgiu na minha frente, mandando os primeiros acordes de “Jumpin’ Jack Flash”. Fiquei burro, pateta, adolescente histérico. Tensão, euforia e um leve desespero misturaram-se à garganta seca pela falta d’água em um peito desnudo, encharcado de suor. 60 mil pessoas me espremiam com todo seu calor e repulsa, eles queriam mais que o meu ar precioso. Vampiros sedentos era o que eu via, mas, “it’s alright now, in fact is a gas”. Eram os Stones, porra! Há meses eu imaginava como seria esse dia e, agora que se passou, lamento ter sido presenteado com uma memória tão desprovida de vitalidade, nada fotográfica eu diria. É como masturbação: Por mais que você tente, jamais conseguirá reproduzir mentalmente aquela transa histórica da maneira desejada. Alguns resquícios da noite em que Mick Jagger foi Mick Jagger há poucos metros dos meus olhos e dos dias próximos a ela ainda estão aqui guardados, e vou tentar reproduzi-los da maneira que quiserem vir. Vai ser uma visão um tanto perfurada em parcialidade, afinal, jogo no time daqueles que dariam a bunda pros caras caso gostasse da coisa. Eu disse “caso gostasse”. Enfim.


Caminando yo no puedo


A excursão que levou um bando de maníacos e alcoólatras para a Argentina no dia 19 de Fevereiro foi organizada pelo Cabelo, da banda Identidade, junto com a Operadora de Viagens Top Tufo, ou melhor, Top Tour. Não que eles tenham alguma culpa. Pedrão, o dono da bagaça, é um cara engraçadíssimo, lembra muito o falecido comediante do Saturday Night Live, Chris Farley, inclusive fisicamente. A dúvida que ficou no ar é se ele conseguiu finalmente descolar o famoso “aromatizador de ambiente” castelhano. O ônibus da trupe era bonito e tal, tinha dois andares, banheiro, TV, DVD, ar-condicionado, tudo certinho. Em cima ficavam os mais dorminhocos e, no andar de baixo, apelidado de “Dr. Jekyll”, o resto. Cada passageiro tinha direito ainda a uma parada na estrada para vomitar, direito esse exercido por alguns (não vou citar nomes) com enorme prazer. Comentário de um senhor de idade, morador de uma das cidadezinhas em que paramos, ao ver que alguém do ônibus filmava a bagunça na rua: "Tem que filmar o pessoal fumando maconha ali no bequinho. Onde já se viu"? Eu não vi nada. A viagem de ida, que tinha tudo para entrar nos anais da malha rodoviária sul-americana, acabou levando cerca de 30 horas, bem mais do que o previsto inicialmente. Ainda não se sabe se a culpa é de uma suposta divergência entre Argentina e Uruguai, que teria prejudicado o trajeto entre um país e outro, ou uma suposta bebedeira do motorista Sr. Wilson, como acreditam quase todos os integrantes da excursão. O importante é que a diversão não cessou por muito tempo, graças ainda mais a colaboração do Doce (ou Dulce, o líder), Ivens (Pica-pau Loco), Tessler (Thedy) e outras figuras, que traziam sempre um sorriso amigo no rosto e/ou um grito de guerra novo, mesmo que fosse às 3h da manhã. Fazer o quê? “Caminando yo no puedo”, pensava eu.


Quilmes, Raulzito y Pancho cucaracho

Sobre a cidade, bem, o que falar? Pra quem vive em Porto Alegre, Buenos Aires é a coisa mais próxima do paraíso. Tá certo, Cidreira fica ainda mais perto. É preciso de no mínimo uma semana para aproveitar e conhecer decentemente o lugar, pois, além de gigante, é lindo, barato, divertido e cheio de garotas atraentes. O hotel Embaixador foi o QG da maior parte do pessoal, assim como desse que vos escreve. Localizado numa das principais avenidas da cidade, a Corrientes, e próximo ao famoso monumento fálico (e suspeito), o Obelisco, ele foi palco também de um dos momentos chatos da viagem, quando a Lucia, uma das belas integrantes do grupo, teve sua mochila furtada logo na entrada. É isso que dá se meter num lugar cheio de argentinos. Alguns hippies que vendem bugigangas em frente ao hotel foram companheiros de trago e festa na madrugada, inclusive cedendo um violão para o Rubão (das bandas Drive e X Galinha) destilar, além do whisky, clássicos do Raulzito, Cascavelletes e, claro, Stones. Bebidas alcoólicas são proibidas de serem degustadas na rua após certo horário, mas o jeitinho brasileiro está no sangue. Caminhar bebum pela Avenida Corrientes às 3h da manhã é uma experiência das mais inigualáveis e um tanto quanto reveladora. Outro ponto alto da primeira noite em Buenos Aires foi o bar próximo ao hotel, onde se podia encontrar Quilmes e outras cervejas por um bom preço, Pancho (o cachorro quente dos hermanos) e a jukebox mais disputada da rua, que passava clipes numa tela gigante. Lugar sensacional. Quem não gostou muito da nossa presença no bar foi uma menina solitária, que deve ter se sentido deslocada com a quantidade de gritos proferidos a cada música dos Stones ou do Lennon que tocava. Sacanagem dela, eu juro que gritei quando a chica colocou no telão o clipe de “Total eclipse of the heart”, aquele clássico dos anos 80. A coitadinha quase chorou na mesa.


Tangos de Piazzolla

Ressaca, quarto de pernas pro ar, banheiro encharcado, barulho no corredor do hotel, eis o dia 21. O dia D. Segunda noite mal dormida, mas ali ninguém parecia se importar. Alguns conseguiram pegar o café-da-manhã, o que não foi meu caso. Após um “almoço de primeira” regado a Pancho e algum tipo de cerveja cucaracha, chega o momento tão esperado: O embarque para o Estádio. São 13h e alguma coisa, o ônibus parte mais uma vez através das gigantescas avenidas e prédios de Buenos Aires, em um clima tão boêmio quanto aqueles descritos nos versos do escritor Sam Shepard acerca de uma América fodida e ainda assim poética. O lugar é longínquo, mas a vista é deslumbrante. A Argentina é um país que, assim como o Brasil, teria tudo para proporcionar o melhor a seus habitantes não fosse nosso passado latino-americano. Chegamos ao nosso destino, mas nem tudo são flores. Tangos do Piazzolla condizem melhor com a situação. Maratona pior do que encontrar a fila de entrada pro show deve ter sido aquela nas Olimpíadas de 2004, em que o irlandês filho-da-puta segurou o pobre corredor brasileiro há poucas reboladas do fim. Guardas argentinos também filhos-da-puta nos enrolavam como pais costumam fazer às crianças em shopping centers. Duas horas de caminhada, uma volta inteira no Estádio do River Plate, diversos perdidos pelo caminho e, finalmente, estamos na fila. Os argentinos são todos loucos, todos. E o pior: Todos eles usam mullets. É incrível e contagiante a animação dos caras, porém o mais engraçado foi a faixa que comprei por 5 pesos antes de me misturar à multidão na entrada. Ela continha os dizeres “Rolling Stone”, escrito com aquela régua que se usava no primeiro grau para escrever nas cartolinas. Mas e o “S”, onde está o “S” de “Rolling Stones”? "Pois é, faltou", explica-me a moça que o vendeu, sem saber bem que porra isso importa. Sem contar o investimento de 10 pesos em um boné com a língua dos Stones que, minutos depois, veio a descolar. Devia ter deixado pra fazer compras no Paraguai.


Ohh, vamos los Stones, vamos los Stones!!!”

Ainda estamos na fila, boa parte da galera do ônibus e muchachos muy locos. Uma foto nossa fora publicada no dia seguinte no jornal “La Nación”, os primeiros a chegar (vide a setinha vermelha na foto abaixo). Aos gritos de “Abre la puerta, la puta que lo pario!” e “Ohh, vamos los Stones, vamos los Stones!”, espécie de hino futebolístico que eles tanto gostam, a coisa vai esquentando ainda mais. São quase 17h quando finalmente abrem-se os portões, e a loucura extravasa. Alguns poucos metros de corrida nos transportam ao apogeu de todo roqueiro. Finalmente, estamos todos diante do gramado coberto que vai dar no palco principal. Impossível conter os berros. Minha mentalidade musical e infantil relembra “Rebellion (Lies)”, do Arcade Fire, enquanto loucas e felizes criaturas se dão conta de que não há praticamente nada nem ninguém que os separe da primeira fileira. A primeira fileira do show dos Stones. “Corre, seu bosta”, resmunga a voz dentro da minha cabeça já perturbada. Ok. “Aqui estou eu, sentado diante do palco, tomando um copo de água gelada, boquiaberto como meus amigos todos.” Mal sabia que as coisas não seriam assim tão tranqüilas pelas próximas horas. Logo entra a primeira banda de abertura, “La 25”. TNT fase cabeludos, mas piorado. Vem a seguinte, “Las Pelotas”. Cocô com mullets. A coisa começa a encher, o saco e o estádio. Diversão apenas quando o segurança joga suas garrafas cheias d’água, para delírio do público. Teve uma de dois litros que caiu bem na minha mão. Meu Deus, foi o banho mais agradável que já tomei na minha vida. E quando o crepúsculo começa a surgir em Buenos Aires, entra no palco um sujeito vestido à lá Bono Vox, com um capuz e pose de star. Eles parecem muito conhecidos por lá. Ainda faltam cerca de duas horas para o show dos Stones, mas a situação se torna assustadora para um asmático acompanhado de uma garota. Socos, empurrões, roda punk gigante. Misfits, Dead Kennedys? Poderia ser. Eram “Los Piojos”, e o inferno estava montado.


Olê, olê, olê, olá... Richards, Richards”

Comentar a apresentação dos Rolling Stones quase um mês depois é tarefa complicada, mesmo tendo sido o show de uma vida toda. Eu fico pensando nas pessoas que reclamam porque eles só tocam os clássicos, dizem que estão decrépitos, blá blá blá. Vão tomar no cu. Quem viu o show deles no “Hyde Park” em 1969, dias após a morte do Brian Jones, ou até mesmo no especial “Rock n’ roll Circus”, com uma guitarra a menos, sabe que a banda é capaz de muito mais que aquilo. E foi o que aconteceu nessa turnê, como eu pude ver pela tv dias antes, em Copacabana. Pra chorar de alegria. O repertório dos dois shows foi semelhante, mas na no seu primeiro dia na Argentina, eles tocaram músicas um tanto obscuras para a maioria, como “Midnight Rambler”, “Shattered” e “Worried About You”, em versões arrasadoras. Se “Wild Horses” ficou de fora, mesmo tendo sido ovacionada no Rio, “Paint It Black” serviu como uma recompensa semi-orgástica. Ser humano algum conseguiu ficar parado assim que entrou a bateria, o Monumental veio abaixo, quase literalmente. Antes de continuar, é importante ressaltar que mais de 3 mil pessoas invadiram o estádio sem ingresso, causando um tumulto absurdo. Eu me encontrava próximo ao palco B quando enxerguei um arrastão de “Batistutas” atropelarem quem estivesse pela frente, segurando uma bandeira gigante e cantando algum hino sem nexo, lógico. Com certeza Copacabana deve ter sido muito mais tranqüila nesse sentido, apesar de tudo. Dane-se. Ainda no início, após apresentar a banda toda, Jagger vai tomar uma Coca Light e deixa a multidão nas mãos de Keith Richards, o cara mais afudê da história do rock. “Olê, olê, olê, olá... Richards, Richards”, ovaciona a multidão. Meio sem jeito pela homenagem, o guitarrista põe as mãos sobre o rosto, olha pro lado e sorri, contente como uma criança (junkie). Com um violão elétrico em punho, anuncia a próxima canção: “This place WOULD BE empty without you”. Voz rouca de bebum, parecia o Dylan. Até uma pedra teria se emocionado e, depois de rasgar nossos corações em pedaços, Keith ainda traz a redenção: “Happy”. Puta madre.


Cueca-Cuela

Muitos foram os pontos altos da apresentação portenha, obviamente: A versão stoneana para o clássico “The Night Time (Is The Right Time)”, do Ray Charles, foi simplesmente perfeita, com destaque para a backing vocal (2 metros de pernas) Lisa Fischer. Na humilde opinião desse que vos escreve, outra maestria da noite foi a música “Tumbling Dice”, uma das minhas prediletas. Ouvir ao vivo essa pérola do cancioneiro mundial arrematou de vez qualquer espasmo de incredibilidade. Não recordo com precisão a ordem do set list, mas com certeza as principais euforias foram causadas por “Honk Tonky Women”, “Start Me Up”, “Sympathy For The Devil” e “Satisfaction”, que fechou a noite tendo o riff de guitarra cantarolado por todo o público, mesmo após a saída da banda. Muita coisa boa ficou de fora, e seria totalmente impossível satisfazer aos fanáticos mais exigentes. Agora, qual fã dos Stones consegue não cantar junto o refrão “I said yeah, yeah, yeah, uhhhhh”, de “Brown Sugar”? Até o Bush cantaria se estivesse lá. Entre as canções do novo disco, a que mais empolgou foi “Rough Justice”, executada pela banda no palco B (no meio do show, um palco menor se deslocava por uma passarela até o centro do gramado, bem próximo da multidão). Particularmente, essa parte deve ter sido a mais marcante de toda a viagem: Visualizar com clareza a expressão braba e velha no rosto do Mick Jagger, devolvendo para o público as camisetas que lhe eram jogadas enquanto cantava “Is rough justice on ya”. Então eu olhava para o lado e lá estava o Keith Richards, com a camisa aberta e sua guitarra pendendo, levantando a perninha feito um cão sarnento. Tudo isso ali, na minha cara. Horas e horas de cansaço e o calor infernal de Buenos Aires não me importavam, mas tudo que meu corpo pedia nesse instante era alguma substância líquida muito gelada. Infelizmente, não havia mais água para vender (!), só na pia do banheiro. Coca-cola e dois picolés de frutas foram o que me manteve de pé até o final do show.

Após dormir por quase toda a viagem de volta, graças a um calmante misturado com whisky, e já em Porto Alegre, meu avô me pergunta, depois de ouvir alguns desses relatos: "Mas tudo isso só pra ver uns cabeludos"? Sim, vô. São os Stones.

terça-feira, 29 de maio de 2007

A Farsa

Desconfiança e divergência são termos que podem constantemente aparecer ligados à órbita jornalística mundial diante dos olhos receptores, sem fazer distinção entre posicionamento político, religioso, etc. Por mais que se conecte automaticamente credibilidade em todo aparato midiático, casos desenfreados de corrupção e falta de ética costuram na imprensa o selo inapropriado da dúvida. Em 1998, diante da face norte-americana tão policiada, a revista The New Republic, de Washington, revelou ter sido atingida em sua própria editoria por reportagens fraudulentas, e desculpou-se. O caso ficou mundialmente famoso e, embora não consiga mais emprego, seu personagem principal hoje é referência negativa para qualquer jornalista.

Stephen Glass, então com 25 anos, admitiu que 27 das 41 matérias que fizera para a revista foram inventadas, seja inteiramente ou apenas trechos. Editor-assistente, apesar da pouca idade, Glass havia trabalhado antes como checador, ou seja, aquele que investiga as informações contidas nas matérias (função que no Brasil inexiste). Algumas publicações de renome exigem que o repórter entregue suas anotações e detalhes que possam ser verificados, como números de telefone e identificação de fontes. Ter desempenhado tal função anteriormente foi fundamental para que o jornalista conseguisse driblar toda a editoria da TNR por tanto tempo, além de sua enorme capacidade de fabricar a realidade. Conforme os investigadores apuraram mais tarde, Glass teve muito mais trabalho em armar suas matérias do que se as tivesse escrito de forma verídica. E talvez a graça da coisa fosse realmente essa: Publicar, em uma revista considerada importante no meio político, versões alteradas e/ou completamente inventadas do que se conhece por verdade.

Além da The New Republic, publicação quinzenal com grande aceitabilidade entre o público democrata e com circulação inclusive dentro do Air Force One, Glass era colaborador também das revistas Rolling Stone e George, e estava prestes a participar de um número da NY Times. Seus artigos tratavam, em sua maioria, de assuntos ligados à informática, principalmente hackers. Foi exatamente abordando esse tema que a TNR, através da revista Forbes, descobriu estar sendo passada pra trás pelo jovem jornalista. Com o título de “O paraíso dos hackers”, a reportagem de Glass descrevia um garoto de 13 anos que teria violado a rede de computadores da Jukt Micronics, exigindo US$ 1 milhão, revistas pornôs e um carro esporte para não revelar segredos da companhia. Ao invés de ser preso, porém, o hacker teria sido contratado pela empresa. Uma história interessante, contada de um modo fabuloso e – como os outros textos de Glass – passível de verificação: Todas as fontes e informações dadas eram forjadas pelo próprio jornalista, que chegou a criar um site para a empresa, mensagem de voz na secretária eletrônica, uma conferência nacional de hackers e o próprio garoto contratado. Tudo falso.

Existem diversas conjecturas para se tentar entender essa situação e as decorrências que a fabricaram, como a ambição de sucesso pessoal e progresso fácil, a falta de responsabilidade profissional ou até mesmo a excitação que o risco impõe. Casos como esse se tornaram comuns no jornalismo, um meio tão corruptível como qualquer outro. Talvez não haja muito heroísmo em falsificar uma história de cunho jornalístico, é verdade, mas isso não a torna desprezível. É preciso saber diferenciar os méritos de alguém que forjou textos e sua bagagem mentirosa como, por exemplo, o caso de Janet Cooke, a repórter do Washington Post que venceu o prêmio Pulitzer com uma reportagem totalmente inventada, sobre uma menina viciada em heroína. Trata-se de uma falsária, que com certeza não poderia ser considerada uma jornalista de respeito. Porém, para vencer uma premiação tão importante e disputada, com certeza seu texto era bem escrito e impactante, o que nos leva a olhar o "crime" com algum crédito.

Para quem quiser saber mais detalhes do caso Stephen Glass, foi lançado em 2003 o filme “Shattered Glass – O preço de uma verdade”, que se passa quase todo dentro da redação do TNR. Outro filme interessante (aliás, maravilhoso cairia melhor) abordando um caso jornalístico real é “Todos os homens do presidente”, com Robert Redford e Dustin Hoffman, sobre o Watergate.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Hava Nagila

Ha
Va, Hava
Na, Hava Na
Gi, Hava Nagi
La, Hava Nagila
Yodeleiiiiiii

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Homenagem póstuma




(Rafael Bertrand, André Rolim, Bruno Bazzo, Lucia Benetti e Thiago Borella)

quarta-feira, 16 de maio de 2007

...

Veja que
Quem te lavou os pés
Te encobrindo os pêlos
Roubando teu dinheiro
É quem te irá fundo

Ao destoar do espaço curto até a tua mão
Os teus dedos no céu
E teu veloz pulmão

As indiretas formas
De se dizer mudo
Sou eu aquele a quem suturas prantos
Morto, porém já acordando

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Hunter Thompson está morto*

Hunter Thompson está morto. Beethoven também. Faz muito tempo, mas está. Não levantou. A última vez que nos falamos foi estranho. Eu não sei nada de alemão e ele era surdo, então ninguém entendeu um ovo. Mas ele me escreveu num bilhete: "Die idee ist gut, doch die Welt Noch nicht bereit", que quer dizer "o mundo não vai entender", ou algo parecido. Depois me dedicou uma sonata, pensando que eu fosse algum tipo de monarca, velho puxa-saco. Linda. Morreu. No enterro do Hunter Thompson devia ter um monte de órfãos reunidos, tomando absinto em homenagem ao criador do jornalismo Gonzo. Mas chega de falar em morte, a vida é mais enfadonha, como uma história contada duas vezes (sem querer ser metido à besta e citar Shakespeare, mas já o sendo).


Falando em metido à besta, gosto de pensar que o Sartre e a Simone de Beauvoir quando se conheceram devem ter sentido asco. O amor é repugnante. E depois vêm os Beach Boys cantando aquelas coisas maravilhosas... O Sartre vesgo e a Simone de Beauvoir lésbica e putona. Ficavam fumando na cama e conversando "a dialética em Heráclito", "onde será que eu pus aquela meia rasgada" etc. Passaram a vida inteira assim, entre o amor, o humanismo, o socialismo, as orgias. Transavam com todo mundo e, bom, a felicidade é sempre sã. Ótimo, do caralho, perfeito, mas que inferno, quem sabe qual o melhor jeito de se viver? A gente faz o que pode porque somos fracos. Eu tenho 22 anos e devia estar mais alcoolizado. E muito vivo. Nem sei cantar, eu só grito. Mas tenho que gritar mais alto, para que ouçam. Já venho.


Onde eu estava? No banheiro... Actinya bheda bheda tattva, actinya bheda bheda tattva, o que quer dizer mesmo? Os Hare Krishna ali da Rua Santa Terezinha é que são felizes com seus mantras, e isso não tem nada a ver com ser vagabundo, é desapego, imagino. Disso entendo um pouco. Acho que se o Beethoven vivesse hoje, iria tocar folk alternativo em Greenwich Village, cheirar pó até conseguir assoviar pelo nariz e seria metrossexual. Ele era um ser perturbado. Será que isso fez dele um gênio ou o contrário? Foda-se, o Chaves ainda é o melhor programa do mundo. Da fase antiga, que nem o Polegar. Todo fã da banda que se preze deveria ficar indignado ao ver os caras tocando sem seu mentor, Rafael Pilha. Se venderam! A gente envelhece e vai se degenerando, se acha muito esperto, mas na verdade nossa malandragem ficou pra trás, quando ir no supermercado com os colegas e trocar as etiquetas de preços das bolachas era mais divertido que conversar com as gurias.


Além de supermercados, eu também curtia roubar livros, metia embaixo da blusa e ia embora. O primeiro livro que eu roubei foi um sobre o David Bowie, daquela coleção "Fulano Por Ele Mesmo", mas eu não sou ladrão. Sabe como é, o Bowie exercia um poder de sedução muito grande sobre mim, mas eu não sou veado tampouco. É mais ou menos como o Lula fez de 89 pra cá. Você se corrompe e aí é tarde. Bom, eu não vou apagar isso. Quer dizer, ninguém se importaria muito, mas eu podia selecionar todo o texto e apertar "delete". Como o Hunter Thompson fez ao dar um tiro na testa. Poucas pessoas devem entender como isso é triste, e certamente eu sou um deles. Na sua carta de suicídio, escrita uns 4 dias antes com o título de "A temporada de futebol (americano) acabou", o escritor diz o seguinte:


"Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de passeios. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá."



Não sei se doeu pra ele, mas com certeza pra sua esposa sim (ele conversava com ela ao telefone no momento do disparo). Ninguém deve julgar ninguém, certo? Talvez, mas isso é exatamente o que fazemos a vida inteira. O John Lennon é quase-Deus, porém todo mundo sabe que ele descia o pau em mulher de vez em quando. Nem por isso pode-se dizer que ele não amava a Yoko. Se bem que ela merecia umas porradas pra parar de dar aqueles berros no meio das músicas. O que eu quero dizer é que pouco me importa a vida dessas pessoas, rockstars e pessoas públicas em geral. A cultura Pop é uma bosta, é fofoca para pré-adolescente, e todo mundo perde um tempão discutindo essas coisas. Sartre, Beethoven e Hunter Thompson podem ir pro inferno. "I don't believe in Beatles, I just believe in me", não é, John? Eu também. Eu vou rir depois. Preparar um café e ouvir Billy Bragg & Wilco tocando as músicas perdidas do Woody Guthrie, enquanto penso num jeito de me safar. Vou gritar mais alto, ou melhor, aprender a cantar. Ah, mas eu já sei.




*Texto publicado no extinto site "PoaRock", em 2005. Acho bacana porque eu realmente escrevi alcoolizado, tirando a revisão posterior.

domingo, 13 de maio de 2007

Drogas legais*

Por mais que se discuta os prós e os contras da descriminalização do uso e legalização do porte de drogas no Brasil, é preciso que se tenha a clara consciência de que cresce cada vez mais o número de usuários de drogas ilícitas, assim como cresce também a violência gerada pelo tráfico, principalmente nos grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo. Além de enriquecer determinados grupos de pessoas com total envolvimento na criminalidade, a proibição das drogas não impede na prática a utilização das mesmas que, por serem de procedência duvidosa, acabam se tornando ainda mais perigosas, muitas vezes sofrendo livres alterações sem nenhum controle. A insegurança vivida nas principais cidades do Brasil pode ser explicada por diversos pontos de análise, mas certamente um dos principais é a guerra entre o tráfico. A polícia, por ser mal estruturada e muitas vezes corrupta, não tem capacidade de enfrentar essa batalha com igualdade, e o que se vê como resultado final é o crime ganhando espaço na sociedade às custas da comercialização de drogas.


Empresas produtoras de tabaco, cafeína e bebidas alcoólicas geram lucros enormes no mundo todo, apesar de estarem lidando com drogas tão nocivas à saúde quanto a maconha e outras substâncias ilícitas. Porém, além de interesses econômicos e governamentais, estamos lidando com a mentalidade atrasada da nossa sociedade católica, que prefere varrer para debaixo do tapete uma questão que altera diretamente o modo como vivemos. Só na cidade do Rio de Janeiro, chega a 10.000 o número de crianças que trabalham para o tráfico de drogas, um dado alarmante não só para quem vê seus filhos envolvidos, mas também para aqueles que vêem seus filhos e a si mesmos como possíveis vítimas desse envolvimento.


Legalizar as drogas não significa aumentar o número de viciados ou o risco de que mais pessoas tenham acesso a elas, assim como a possibilidade de se comprar uma garrafa de cerveja em qualquer esquina não torna qualquer pessoa um alcoólatra em potencial. Hoje em dia vivemos uma situação em que adquirir drogas ilícitas como a maconha e a cocaína é absolutamente simples, e quem lucra com isso são as mesmas pessoas que investem na marginalidade e no crime organizado. Usuários de drogas devem ser tratados como caso de saúde, e não da polícia, assim como acontece com aqueles que adquirem qualquer outro vício legal. O que se defende com a legalização das drogas não é o seu uso generalizado, mas sim a possibilidade da livre escolha e o fim da violência do tráfico e do tratamento injusto que é dado ao usuário. Somente com educação responsável poderá se tratar uma questão tão delicada quanto o uso de drogas, e não com proibição e repressão, isso qualquer um pode enxergar.




*Texto "certinho" escrito para uma "amiga" minha entregar na Fabico (não vou dizer quem é, lógico). Se tu quiser pode usar também!

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Modinha ao mod atual

Mod é merda
A moda é foda
Hoje em dia
Qualquer merda vira moda
Mande um mod à merda

terça-feira, 17 de abril de 2007

Porto Alegre é que nem Varginha*

Comecei o ano com o pé direito: Tomei minhas primeiras gotas de Fluoxetina, assim que acordei, pelas 15h de hoje, dia 1 de janeiro de 2006. Um antidepressivo inibidor da recaptação da serotonina sempre pode vir a calhar, não é mesmo? Nunca tinha tomado. Não tem ninguém na casa, e a Lopo Gonçalves inteira parece prestes a pegar fogo. Pensamentos confusos. As últimas semanas do ano são as piores, ainda mais em Porto Alegre. A cidade fica que nem Varginha: Não tem nada, só ET. No meu caso, deve haver alguma simbologia nisso: Sozinho, melancólico e de ressaca. Dor de cabeça. Mas dissecar a alma é arrancar obturações. Não existe beleza amparada à tristeza. Gosto de idéias curtas, frases de efeito. “Cagar é legal”. Se rimar, melhor ainda. “Ué, mas tu não ia pra Imbé?”, pergunta alguém. Quero comprar um tapete. Trocar o carpete. Tomar um sorvete. Tocar um trompete. Coçar o cacete. Cortar o topete. Um casamento em Veneza.

Segundo Borges, ele cometeu o pior dos pecados que um homem pode cometer: não foi feliz. Mas isso não me importa nada, aliás, nem a ninguém que não o próprio Borges. Ora, Buenos Aires sempre me pareceu um lugar muito mais divertido e interessante de se viver do que Porto Alegre, então ele que se conforme e pare de reclamar, deixa isso pra mim. Até porque o sonho do portoalegrense sempre foi ser argentino, e do sul-riograndense, ser gaúcho. Mesmo assim, não posso me queixar se cresci torcendo pro Grêmio pensando que era o Boca Juniors, se ao pedir Cortázar me entregaram Fogaça. A mim agora bastaria um belo milk shake do Rib's, o falecido Rib's, um hot dog da República e um lap top ligado enquanto assisto a TV Guaíba submergindo. Em inglês tudo fica melhor. 

Não estou longe demais das capitais, como diria o chato do Humberto, estou é cercado por expressões e costumes que vêm de longe, como o muro da Mauá e a merda boiando no Guaíba, pra parecer mais bairrista. A solidão é um mundo imenso de infeliz cidades. Um charuto em Havana ou um vinho na Serra não poderão desajeitar do meu peito uma angústia que é cômoda, enraizada nos fios de cabelos que eu tenho. E com o medo, me está completo um desejo antigo de não estar deserto. Não é que eu odeie os seres humanos, veja bem, mas só os sambistas da velha guarda carioca me parecem legais, com seus ternos de linho branco e chapéu panamá amassado. Sem falar no Renato Portaluppi e o Ildo da Lancheria, é claro. Viva o Rio Grande do Sul, e viva o Rei Pelé (não preciso explicar ironias, certo?).

O ano começou e eu não guardei as lentilhas, mas um mendigo me pediu champagne na rua, e eu dei, um belo bocado inclusive, porque lembrei do comercial do Zaffari e, bem, chega de falar dessa cidade ingrata. Aí vêm minhas resoluções para 2006:

DE JANEIRO A MARÇO: Vou encher a pança de pastelina e ficar mais gordo que o Marlon Brando na fase Apocalypse Now, e mais burro que o Maguila. Vou ler tantos livros que meu cérebro não conseguirá mais captar a diferença entre Nelson Rodrigues, Escola de Frankfurt e a Tati Quebra-Barraco (gênios).
DE ABRIL A JUNHO: Vou enchera pança de livros e ficar mais gênio que a Tati Quebra-Barraco na fase Escola de Frankfurt, e mais gordo que o Maguila (burro). Vou ler tanto Nelson Rodrigues que o Marlon Brando não conseguirá mais captar a diferença entre Apocalypse Now, meu cérebro e a pastelina.
DE JULHO A SETEMBRO: Vou encher o Maguila de pastelina e livros e ficar mais Apocalypse Now que o Marlon Brando, meu cérebro e Nelson Rodrigues na fase pança (gordo), e mais burro que o gênio. Vou ler tanto a Escola de Frankfurt que a diferença não conseguirá mais captar a Tati Quebra-Barraco.
DE OUTUBRO A DEZEMBRO: Vou encher meu cérebro de Tati Quebra-Barraco e ficar mais burro que o Nelson Rodrigues na fase pastelina, e mais Escola de Frankfurt que o gênio (Maguila). Vou captar tanto a diferença entre Apocalypse Now e a pança que o Marlon Brando mais gordo não conseguirá ler livros.

Já decidi que, a partir desse ano, não vou decidir mais nada. Vou amar Porto Alegre como quem traça a empregada: Não tem tu vai tu mesmo. Não tem ninguém na casa, e a Lopo Gonçalves inteira parece prestes a pegar fogo. Felizes os felizes.



*Texto lido por mim no Sarau Elétrico do Bar Ocidente, dia 27/03/2007, com o tema "Porto Alegre"