terça-feira, 29 de maio de 2007

A Farsa

Desconfiança e divergência são termos que podem constantemente aparecer ligados à órbita jornalística mundial diante dos olhos receptores, sem fazer distinção entre posicionamento político, religioso, etc. Por mais que se conecte automaticamente credibilidade em todo aparato midiático, casos desenfreados de corrupção e falta de ética costuram na imprensa o selo inapropriado da dúvida. Em 1998, diante da face norte-americana tão policiada, a revista The New Republic, de Washington, revelou ter sido atingida em sua própria editoria por reportagens fraudulentas, e desculpou-se. O caso ficou mundialmente famoso e, embora não consiga mais emprego, seu personagem principal hoje é referência negativa para qualquer jornalista.

Stephen Glass, então com 25 anos, admitiu que 27 das 41 matérias que fizera para a revista foram inventadas, seja inteiramente ou apenas trechos. Editor-assistente, apesar da pouca idade, Glass havia trabalhado antes como checador, ou seja, aquele que investiga as informações contidas nas matérias (função que no Brasil inexiste). Algumas publicações de renome exigem que o repórter entregue suas anotações e detalhes que possam ser verificados, como números de telefone e identificação de fontes. Ter desempenhado tal função anteriormente foi fundamental para que o jornalista conseguisse driblar toda a editoria da TNR por tanto tempo, além de sua enorme capacidade de fabricar a realidade. Conforme os investigadores apuraram mais tarde, Glass teve muito mais trabalho em armar suas matérias do que se as tivesse escrito de forma verídica. E talvez a graça da coisa fosse realmente essa: Publicar, em uma revista considerada importante no meio político, versões alteradas e/ou completamente inventadas do que se conhece por verdade.

Além da The New Republic, publicação quinzenal com grande aceitabilidade entre o público democrata e com circulação inclusive dentro do Air Force One, Glass era colaborador também das revistas Rolling Stone e George, e estava prestes a participar de um número da NY Times. Seus artigos tratavam, em sua maioria, de assuntos ligados à informática, principalmente hackers. Foi exatamente abordando esse tema que a TNR, através da revista Forbes, descobriu estar sendo passada pra trás pelo jovem jornalista. Com o título de “O paraíso dos hackers”, a reportagem de Glass descrevia um garoto de 13 anos que teria violado a rede de computadores da Jukt Micronics, exigindo US$ 1 milhão, revistas pornôs e um carro esporte para não revelar segredos da companhia. Ao invés de ser preso, porém, o hacker teria sido contratado pela empresa. Uma história interessante, contada de um modo fabuloso e – como os outros textos de Glass – passível de verificação: Todas as fontes e informações dadas eram forjadas pelo próprio jornalista, que chegou a criar um site para a empresa, mensagem de voz na secretária eletrônica, uma conferência nacional de hackers e o próprio garoto contratado. Tudo falso.

Existem diversas conjecturas para se tentar entender essa situação e as decorrências que a fabricaram, como a ambição de sucesso pessoal e progresso fácil, a falta de responsabilidade profissional ou até mesmo a excitação que o risco impõe. Casos como esse se tornaram comuns no jornalismo, um meio tão corruptível como qualquer outro. Talvez não haja muito heroísmo em falsificar uma história de cunho jornalístico, é verdade, mas isso não a torna desprezível. É preciso saber diferenciar os méritos de alguém que forjou textos e sua bagagem mentirosa como, por exemplo, o caso de Janet Cooke, a repórter do Washington Post que venceu o prêmio Pulitzer com uma reportagem totalmente inventada, sobre uma menina viciada em heroína. Trata-se de uma falsária, que com certeza não poderia ser considerada uma jornalista de respeito. Porém, para vencer uma premiação tão importante e disputada, com certeza seu texto era bem escrito e impactante, o que nos leva a olhar o "crime" com algum crédito.

Para quem quiser saber mais detalhes do caso Stephen Glass, foi lançado em 2003 o filme “Shattered Glass – O preço de uma verdade”, que se passa quase todo dentro da redação do TNR. Outro filme interessante (aliás, maravilhoso cairia melhor) abordando um caso jornalístico real é “Todos os homens do presidente”, com Robert Redford e Dustin Hoffman, sobre o Watergate.

2 comentários:

Thiago Lazeri disse...

tudo mentira.

Anônimo disse...

Não acredito em realidade monótona...