segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Para agradar meninas indecisas

As intenções dos caras que eu conheço quando saem à noite são sempre as melhores possíveis: Transar e se drogar. Realmente não há coisa muito mais excitante a se fazer, mesmo se você é rico e pode brincar de tiro ao alvo com os móveis da casa. Ou com seus pais. Nesse caso, é melhor roleta-russa, porque daí se der merda é vontade divina. Tédio é pior do que ressaca. Por isso eu bebo, pra não virar psicopata. Certa vez, quando eu tinha lá por uns 11 anos, meu tio Jorge me falou algo que transformou o mundo em que eu vivia num lugar muito mais próspero e feliz de se habitar: “As gurias pensam em sexo tanto quanto os guris, só que elas não falam”. Uau. Era tudo que eu precisava ouvir àquela altura da vida. Eu nem sabia de que jeito se chegava a um orgasmo, mas como convencer uma menina a transar era a questão que mais importava na minha breve existência (as coisas não mudaram tanto). Muito menos me ocorria a idéia de que, em algumas situações, quem deveria ser convencido era eu. Me levar pra cama naquela época teria sido a maior barbada do mundo (realmente as coisas não mudaram tanto).

A vida parece algo muito divertido quando se tem 11 anos. Minhas únicas preocupações eram atingir o Nirvana (a banda, lógico), completar o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro e fazer ligações a cobrar para as freiras do Mãe Admirável, colégio responsável pelos traumas mais marcantes na criança que eu era. A começar pelo nome ridículo: Mãe Admirável. Foi nessa época que aconteceu minha primeira desilusão amorosa. Eu era apaixonado pela Caroline, e durante uns dois anos ela me engambelou de uma forma que daria inveja a qualquer publicitário renomado. Famoso cu doce. Pra piorar, o irmão mais velho dela me batia e a guria dava risada. No outro ano, quando nos separaram de turma, eu me irritei. Decidi que não ia mais correr atrás e comecei a tratá-la com indiferença. Foi então que tudo mudou. Nos intervalos, ela me seguia com os olhos, dava sorrisinhos e vinha puxar assunto. “Piranha”, pensava eu, enquanto reparava que após todo esse tempo a menina agora desenvolvera os seios.

Sem querer, junto com meu tio ela acabou sendo de extrema utilidade na construção de um perfil rude e simplório das relações intersexuais, que me acompanharia por um bom tempo ainda: “Homens e mulheres podem ter os mesmos tipos de interesses, porém quando um percebe o interesse do outro, fode tudo”. Na minha cabeça, ambos gostavam de sofrer, de dificultar, vide meus pais. Lembro da melancolia que senti quando ouvi pela primeira vez “The long and winding road”, do Paul McCartney, e estava tudo ali, tudo que eu queria ouvir e dizer. Rezo pra ele todas as manhãs. Quando o Paul cantava “You left me standing here a long, long time ago. Don’t leeeave me waiting here, lead me to your doooooor”, por algum motivo meu peito ficava apertado e eu sabia que ainda haveria tristeza o bastante pra mim. A luta desde então tem sido me desvencilhar ao máximo de mim mesmo e de qualquer forma de sentimentalismo exacerbado. Tem sido duro. Devia ter virado padre. Pedofilia é muito menos desgastante, basta comprar um chocolate e correr pro abraço (literalmente).

Adoraria poder dizer o quanto hoje eu me sinto maduro e hábil com relação a essas bobagens todas, mas se parece muito com ontem. O pior é crescer e descobrir que tudo que se aprendeu sobre amor e felicidade estava terrivelmente fora de contexto. Você vira um Pac Man à procura de qualquer satisfação barata e a única forma de se sentir acolhido é num inferninho do Centro, dizendo pra puta: “Quero gozar na cara”. Nunca paguei por sexo, não sou normal. Tenho problemas comigo mesmo, admito, ouvi Sonic Youth por anos a fio e imagino em toda mulher a Kim Gordon (deve ser por culpa da microfonia). Loira, de saia, tocando baixo e fumando. Como diria um amigo meu, “mulher que fuma, dá”.

Teorias... Há uns dias atrás, conversando com meus amigos e ídolos Carlos Hahn e Zé Pedro, surgiu no ar a constatação unânime e óbvia de que qualquer teoria sexual que tente rotular as mulheres é pura coisa de imbecil. Babaquice de criança. Tirando aquela clássica que diz que não existe mulher feia e tal... Eu gosto daquelas garotas que fazem o cara dizer “puta que pariu, eu odeio essa guria”, mas não gosto das que são negligentes, que uma hora estão contigo e no outro dia já têm outro. Gosto das lésbicas e das "lésbicas" com aspas, que ainda estão se descobrindo. Das que bebem mas mesmo assim não ficam vulgares. Das que fazem da diferença um charme, das que lêem o que eu escrevo com carinho e então escrevem de volta, mas o meu coração também reserva espaço para as patricinhas que fazem chapinha e nunca lêem nada até o fim porque precisam assistir o filme novo da Sandra Bullock no 12. Na verdade, só existe um tipo de mulher que me agrada: A que me quer. As outras eu consigo rejeitar da mesma forma. Sei lá do que eu gosto... Gosto de banheiros públicos e suas várias funções. Dormir na casa dos outros também é muito bom. Dormir olhando as estrelas. Poucas sensações se comparam a de dormir sobre um casaco na rua, ouvindo Roberto Carlos na Caiçara enquanto tu se dá conta de que o dia vai nascer logo, e as pessoas estão seguindo seus rumos e murmuram na distância, mas nada disso importa ali, porque tudo vai ser teu mesmo quando acordar.

O grande foda é que sou meio sem iniciativa quando não alcoolizado, mas no fundo até que soa legal. Aliás, eu sou legal. Nunca durmo nos primeiros dez minutos após o sexo. Nem durante. Eu me viro muito bem sozinho, os outros é que são a merda. Kim Gordon e eu já bastaríamos para que existisse Caim e Abel, maçã, serpente e etc. E também a Juliette Binoche, pra apimentar a coisa. O físico Stephen Hawking só entrou na busca da “Teoria de Tudo”, onde tenta explicar todos os fenômenos do universo em todas as escalas, porque não podia comer ninguém. Ele não saberia dizer de fato o que é preciso para agradar meninas indecisas. Nem eu. Eu não entendo de teorias, então tento a prática. Os mecanismos que unem e separam as pessoas são mais complexos que o cosmos, porque o sexo é a mola propulsora de tudo. Só pra terminar, será que alguém tem figurinhas do Brasileirão de 95 pra trocar? Ainda me faltam as do Ricardo Rocha e do Tupãzinho pra completar o álbum.

37 comentários:

Anônimo disse...

qual o problema de ser indecisa?

Anônimo disse...

Bah, muito bom! O humor sutil, irônico e inteligente fazem a diferença num texto, né! Ótimas sacadas! Sinceridades boas e ruins, mas são verdades, e é isso que importa. Bravo, Bazzo! Hehehe...

Luiza disse...

Tem uma música que diz que o sexo é o amor em seu formato mínimo.
eu concordo.
gostei do que li.
abraços

Unknown disse...

Estaria eu em choque?! @_@...
Fazia tempo qu eu não lia algo q me fizesse ter um mix de sentimentos..eu ri..mas também refleti..hehehe
Espetacular...sou uma nova mulher..hehehe
Beijos

G disse...

boas imagens. gostei da parte de acordar em cima do casaco.

Anônimo disse...

"Na verdade, só existe um tipo de mulher que me agrada: A que me quer. As outras eu consigo rejeitar da mesma forma."

Perfect *-*

Unknown disse...

Bruno tu é d+!
Além de te admirar como ator, amigo, boêmio, dançarino, agora posso dizer que te admiro tbm por saber fazer uso das palavras.
Sem sombra de dúvidas teu texto ficou perfeito dentro do proposto.
Beijão

Pedro Fernandes disse...

cara, eu sei que foi um post pra gurias comentarem, mas eu nao consigo ler blog e nao comentar.

ahm.. bom, 70% do caminho andado para a satisfação plena tu deve ter, visto que tu gosta de quem te quer. o meu problema é quando rola o oposto. aí fica dando voltas e voltas em paixões platônicas.. é bem pior!

e acho que não tem nada de errado em preferir a mina do sonic youth às putas no centro, hehehh

abraço. poste com mais freqüência!

Anônimo disse...

Teus textos não são apenas bem escritos, eu gosto de lê-los, tenho que admitir... e são poucas as coisas que me prendem até o último ponto final. São sinceros, sinceros de um jeito que trazem um conforto engraçado que eu nem sei explicar.
Beijo

Alê disse...

Já comentei, mas vou comentar de novo. Afinal acabei de ler novamente. Perfect! qndo a gente lê pela segunda vez, percebe coisas a mais, detalhes nas entrelinhas. hahaha adoro.
e concordo com o cidadão aí de cima.
poste mais vezes!
Beijoooosss

Anônimo disse...

Nossa!Sabe,eu sei que tu não me conhece mas olhando seu orkut achei este teu blog aqui e eu não sei muito o que te dizer Bruno. Não estou puxando o saco mas este foi o primeiro texto que li que me fez sentir algo diferente é como se tu soubesse como me entender.bah muito bom o texto.acho que tu não precisa que ninguém te diga para que saibas disso né? e o mais impressionante ainda é que eu nunca ao menos toquei uma só palavra contigo. Eu amo The Long And Winding Road. Quanto tu cobra pra ser psicólogo ein? a tri ^^

Anônimo disse...

Cara tu eh foda! Conseguiu escrever aquilo q eu penso a respeito de meninas X sexo! Isso devia sair na Zero Hora!

Faloww!

fernanda disse...

Te juro que eu quase chorei lendo. =)
Textos confessionais são ótimos.

Unknown disse...

Sensacional!
Bj, Vivi

Anônimo disse...

Genial, Bazzo!

Brust.

Anônimo disse...

Genial, Bazzo!

Brust.

Anônimo disse...

Adorei o que tu escreveu! adorei a parte da Juliette Binoche também eu gosto dela e tal...

Tunai Giorge disse...

.

O texto longo, sobre o fundo preto... Confesso que quase desisti. Quase! Bem legal cara, realmente os tios sabem das coisas. Feito!

.

Thalita Covre disse...

Bom texto.
Sinal de que foi bem alfabetizado.
Parabéns!

Ah sim, adotei sua frase:
"Por isso eu bebo, pra não virar psicopata."

Anônimo disse...

Zero Hora, já!

impressionante! tive orgasmos intelectuais! e olha... eu não dava nada por ti...

Gabriela Oliveira disse...

Veja você, me disseram que eu precisava ler um certo texto e me deram esse link, qual não foi minha surpresa em me deparar com teu blog e com esse texto ainda.
Será que sou uma dessas meninas indecisas? Ou essas que inspiram ódio? Ou ainda negligente? Bom, isso não vem ao caso, prefiro acreditar que leio o que me escrevem com carinho e respondo. Mas o fato é que gostei do texto, muito bom mesmo.
Aguda sinceridade, como de costume aliás...

Paloma Martins disse...

Bruno, não daria nada por um texto teu, mas esse realmente surpreendeu, foi escrito com sinceridade.muito bom.
poste com mais frequencia por favor
beijos

Anônimo disse...

Trés interessantè ... Penso que a indecisão pode ser simplesmente o reflexo de mecanismos de defesa referentes à ambivalência de sentimentos... ou seja, vendo por uma perspectiva positiva, expressa uma porcentagem real de que tudo possa dar certo...

Rubem Rocha disse...

Mto bom o post, eu ja tinha lido, por indicação de uma fãzinha tua xp. só tinha esqecido de comentar.
Grande Bazzo ;)

Anônimo disse...

haha, falou bruno, vo lá ver um filme da sandra bullock.
ironia.
muito bom o texto, e realmente, é bem nessas mesmo.
julinha_ccr@hotmail.com

me adiciona lá miniatura de john lennon.

DonnaCris. disse...

Bah!!
Adorei o que tu falou!
e sim, tu é um cara legal, eu sei disso!
Bj.
C.

Anônimo disse...

Cadê teu livro? :)

Anônimo disse...

adorei.
PRECISAVA dizer isso.
:}

(mesmo que já tenha sido escrito há meeeeeeeeeses e eu só o tenha encontrado hoje)

e vou repetir o que várias outras pessoas hjá disseram: tu deverias escrever mais, mocinho.

;)

Anônimo disse...

Puta madre...
Bá! Esse texto pra mim foi algo que, nossa... parece que me fez entender muitas coisas.

Meu irmão e meu primo colecionavam essas figurinhas também, e eles tinham os bonequinhos da seleção também! Ah, que guri não tinha...
Tipo, calça de abrigo do jaspion e aqueles iô-iôs da coca!
Sem contar no clássico copinho do Michael Jackson... Já eu detesto futebol. Só assisto a copa pra ver os gatinhos da Alemanha e da Inglaterra.
Enfim.

Eu sempre fui a guria mongolona e esquisita da turma. E a mais alta tb... E ficava mais alta ainda quando ia pro colégio vestida de Spice Girl. Só recebia cantadas fora da escola, por pedreiros e mandris.


Quanto a ser indecisa ou não ser...
É, existe uma certa insegurança sabe. Não existe uma guria que eu conheça que nunca assistiu o desenho da cinderela ou nunca foi afim do gayonardo di caprio em Titanic. Mas todo mundo se quebra em questão de amor e tal.

Eu aprendi, depois de muita mancada, quando li uma frase de cair o cu! essa aqui ó (mais ou menos assim):

"A dor é inevitável, mas o Sofrimento é opcional."

Carlos Drmmound de Andrade. Esse foi o meu anestésico nessas questões...

Depois assisti 5 caras de liverpool e encontrei a minha última párticula de gelo nas células, quando John Lennon exclamava: " Tudo não passa de um blefe!"

Aí fui levando a vida assim...
Até que um dia desses, eu meio que me irritei, e fiquei pensando, tipo...
Não sei o que é pior sabe?
Tu se apaixonar "uma vez", beijar um cara só na vida e casar com ele pra ser "feliz pra sempre" sem ao menos saber como é aquele cara que tu encontrava todos os dias na biblioteca na sessão de literatura inglesa...
Ou tu chegar ao fim da adolecência, ter experimentado umas 100 bocas diferentes, ter dormido numas 7 cama, viajado, bebido, fumado, cheirado, não achar mais nada tão absurdo na tua vida... mas empalidecer toda a vez que um cara super charmoso, e gentleman, queira te conhecer melhor, tomar uma bebida e quem sabe... e aquele "quem sabe" é cruel.

Ah, vale pras mulheres também. Tem muita lésbica dizendo que as mulheres sabem o que querem uma com as outras. Sabe o que é isso? BA-LE-LA.
Tu nunca sabe se a mina tá afim mesmo, ou se quer pagar de bonita te agarrando por aí..


Tá.. essas coisas não são tão ruins assim, mas... um tanto quanto frustante ás vezes.

Céus! me empolguei no texto e tu nem vai ler.
hahauhauaee

Enfim.

(não sei o que tem a ver... mas, tá.)

Branca disse...

Nossa!!!!

Adorei...concordo plenamente.

Luara Quaresma disse...

"Das que bebem mas mesmo assim não ficam vulgares. Das que fazem da diferença um charme, das que lêem o que eu escrevo com carinho e então escrevem de volta (...)"

Assim, voce é rico? (:

Cara, vc escreve espantosamente bem! Muito gostoso todo esse teu amontuado de palavras! *-*

Unknown disse...

eu não te quero

Anônimo disse...

=]]]

Unknown disse...

Lembrei de um ditado que minha mãe vive falando "Filha, quem escolhe muito acaba sendo escolhido!Cad um tem seus valores."Ela realmente tem mais experiência que eu.

Unknown disse...

Eu gostei! Me fez rir, acho que faziam 3 dias que eu não ria! =)

Polaca disse...

...eu li o que escreveste, com carinho. :*

Caroline Frantz disse...

afudê...