segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vai acontecer com vocês também, garotos

Carlos ama Laura que ama Carlos que, pra fugir um pouco da rotina, foi lá e comeu a Karina, melhor amiga de Laura e que ama sexo acima de qualquer coisa. Sem peso na consciência, e sem camisinha. Parece que ele não gozou. No meio disso também aparecem Roberto e Gabi, em situações e enredos adversos; Roberto é colega de estágio de Laura, de vez em quando conversam sobre coisas banais, sem muita importância. Intercalam risadinhas e olhares sugestivos. Um dia tomaram café juntos na lanchonete do serviço, quase perderam a hora, mas nunca passou disso, um flerte. Laura é antiquada, acha que traição leva ao inferno. Não “aquele”, talvez um inferno próprio, cheio de culpa, arrependimentos e outros substantivos abstratos, bem abstratos, aliás. Além disso, ela ama Carlos, não esqueça.

Agora que foi corneada, Laura poderia finalmente ter algo real com Roberto. Talvez dure um mês só, talvez nem isso, não importa. Depois de um período de recolhimento amoroso e sexual, lógico. Ela não poderia passar por tamanha desilusão e, logo em seguida, cair nos braços de outro homem, um ser persuasivo e faminto por qualquer carne nova que apareça. Cá entre nós, ela seria uma vadia, por mais que as intenções de Roberto fossem as melhores possíveis. Mas isso não vai acontecer, e você sabe o porquê: Carlos e Karina tiveram apenas uma transa sem compromisso e bem meia boca, não precisam contar nada para Laura. Ela é muito sentimental, não iria entender e tampouco os perdoar. Sendo assim, Roberto continuará seu relacionamento indefinido com a outra personagem da história: Gabi.

Roberto não ama Gabi, que também não o ama, apesar de ter uma síncope cada vez que desconfia de algum caso dele com outra. Sim, a maioria das mulheres realmente tem muitas coisas em comum. Roberto não sabe bem como enxergar Gabi; sempre foram amigos, gravavam cds com músicas um para o outro, até que, numa noite de porre, ficaram. Que sexo oral, pensou ele. Como encontrar uma garota bonita, apaixonada por Chuck Palahniuk e que saiba sugar um pau com tal maestria é coisa rara, segurou a moça. Fez bem. Ela? Tinha namorado um cara por 3 anos, antes de dar pra vários (quando digo vários, nesse caso, são vários), estava cansada de tudo isso. Achou em Roberto um amigo que, além de topar todos os seus fetiches, sabia fechar um baseado com perfeição e não deixava baba depois de dar um pega. Casaram. Evidente. Depois de uns 5 anos nessa história, perceberam que eram a melhor companhia que ambos poderiam encontrar. O que aconteceu depois disso não importa, e nem é pra ser triste, ora. Vai acontecer com vocês também, garotos.

O “amor”, entre aspas como deveria sempre ser escrito, de Laura e Roberto, que foi preconizado pelos anjos católicos, pelas almas penadas do espiritismo e pelas crentes virgens entre olhares intencionados e pensamentos besuntados em uma pureza bonita, tal como cada gato deve ter ao espalhar habilidosamente seu corpo em torno de si mesmo, após uma deliciosa refeição, e fechar os olhos pra sonhar com um carinho do dono, jamais se desenvolveu por completo, e virou pó. Virou lástima. Laura tampouco se casou com Carlos, não teve tempo: Ao voltar de uma viagem do interior com os pais, seu corpo foi esmagado contra um Corsa azul 2001 recém renegociado e ainda não pago. Ela tinha 23 anos, estava solteira e ultimamente não pensava muito em sexo e coisas sujas do gênero; Queria se formar, fazer alguma viagem ao exterior e começar yoga. Já não amava Carlos há algum tempo, percebera isso naturalmente e quis terminar o namoro, com um choro de criança e um soluçar, “me desculpa, as coisas mudaram, tu vai ser sempre especial”. Ainda o chamou de “amor” nesse dia, o último em que se viram.

Isso não se trata de um conto, passa longe em narrativa e intenção, muito menos uma crônica ou o que o valha. Pra mim, é uma livre tomada de consciência, porque, pra saber o que se passa dentro de qualquer peito arranhado, é preciso uma boa dose de audácia tola, qual aquela que empurra alguém que te quer bem pra longe e grita “liberdade” com plenos pulmões. E os meus pulmões, eles hoje estão obstruídos, e a minha liberdade ficou em algum outro lugar, porque eu não amo ninguém, porque eu tento afirmar com uma negação a escolha errada que não aceito chamar de minha. Eu hoje, aqui, me sinto só, mas, em muitos tem um pouco de mim que era bom e que foi mal aproveitado. Acontece que se quer um pouco do mundo todo, se quer compartilhar pensamento e orgasmo com todos eles! E todo mundo sabe que o mundo todo está cercado de imbecis, e da pior espécie: aqueles que atrapalham a tua foda. Era pra ser só sexo, mas eu brochei. Vou sentir a falta de todas que me “amaram” porque, de todas elas, não ficou mais nada. Vai acontecer com vocês também, garotos.

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