terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Resenha Crítica 1*


“Perfil – A vida como protagonista no texto jornalístico” baseia-se na análise do comportamento humano para traçar imagens de perfis na imprensa, através de estudos sobre diversos autores brasileiros e, principalmente, norte-americanos. Nesse trabalho, o autor Rafael Flores Terra utiliza-se bastante de obras localizadas dentro do movimento conhecido como “jornalismo literário”, procurando definições e sugestões junto a referências de autores ligados a esse formato, tais qual Gay Talese, Joseph Mitchell e outros. Apesar da boa relação existente entre essas visões teóricas, falta ao trabalho uma unificação de pensamento, uma vez que a grande diversidade de idéias não resulta numa tese objetiva.

Para a construção desse trabalho, de forma organizacional e seqüencialmente muito bem elaborado, é possível notar a utilização em grande escala da técnica de pesquisa bibliográfica, voltada para a identificação e revisão de leituras acerca do tema escolhido, e entrevistas abertas, que se encaixam dentro de uma técnica qualitativa conhecida como “Entrevista em profundidade”. As duas parecem ter sido bem selecionadas, tendo em vista que o assunto da obra, os perfis como gênero jornalístico, dá enormes possibilidades de interpretações e estudos pré-determinados capazes de boa sustentação teórica.

A primeira técnica constitui quase que a totalidade da metodologia utilizada no estudo que, ao longo de todos os capítulos, se volta para o registro de pensamentos de diversos autores, em citações diretas e esclarecedoras diante do tema abordado. Até mesmo por se tratar de um trabalho voltado à prática da literatura, fica mais fácil aproximar seu estudo àquilo que está sendo estudado, ou seja, falar sobre a literatura utilizando-se da mesma. Porém, essa revisão bibliográfica, apesar de solucionar questões levantadas de maneira prática e bastante ágil, parece descaracterizar o caráter único do trabalho, uma vez que não apresenta nada de novo ao conhecimento científico.

Ao utilizar-se de entrevistas abertas, ou seja, sem itinerários ou roteiros, na pesquisa por dados e visões esclarecedoras sobre o assunto em questão, o autor consegue a clareza que procura para as indagações do texto, como na definição do professor da PUCRS, Leonam, em determinada parte do texto, para a posição do repórter na construção do perfil e do perfilado, contrariada por Rafael com base em outra definição teórica, e em seus próprios questionamentos.

Ao longo de sua obra, Rafael tenta encontrar funções sociais e jornalísticas para os perfis e perfilados, com um grande número de anexos inseridos junto ao texto, a fim de exemplificar com dados mais reais e autênticos suas conclusões. Assim, vemos sua preocupação em desvendar não apenas um histórico de perfis no mundo, como celebridades e pessoas comuns com histórias extraordinárias (segundo o próprio autor), mas também em apresentar a importância e características principais dos grandes perfiladores, como os citados anteriormente.

Utilizando-se de métodos estritamente ortodoxos, o autor consegue prender a leitura do início ao fim, com idéias claras e escrita padrão (apesar dos diversos erros gramaticais, sendo um deles logo no início dos agradecimentos). “(...) para mim rabiscar histórias”, e “essa deve ser uma das razões da baixa estima do brasileiro(...)”, são erros gravíssimos de revisão e não condizem com um trabalho acadêmico que se propõe a ser fonte de pesquisa e de conhecimento empírico.

No capítulo um, intitulado “O perfil e os perfilados”, são apresentados conceitos e definições para o perfil dentro do jornalismo, nas palavras de autores brasileiros. Como principal análise, está a de que o texto de perfil tem como base e principal função retratar atores sociais, uma vez que o núcleo de sustentação narrativo são as pessoas. Autores como Sergio Vilas Boas e Muniz Sodré são utilizados como fonte de pesquisa e auxiliam na discussão diante de os perfis como sendo um gênero jornalístico ou, conforme defende o pesquisador José Marques de Melo, apenas integrante do gênero interpretativo. Aqui, temos a impressão logo de cara que falta ao texto uma maior definição teórica, pois não há homogeneidade naquilo que está sendo apresentado como base de discussão.

No capítulo seguinte, “Um pouco de história”, nos são apresentados perfis do passado e do presente, que retratam figuras humanas de forma jornalística e literária. Por ser considerado o berço desse tipo de linguagem, os Estados Unidos ganham maior destaque, em citações às revistas “Esquire”, “The New Yorker” e “Life”, dentre as mais famosas que se utilizam enormemente dos perfis. Há também espaço para as publicações nacionais e regionais, porém em menor escala e profundidade. Como constatação controversa, a de que um bom perfil depende mais daquele que o transforma em texto do que do personagem analisado.

Dando continuidade ao texto, chegamos ao terceiro capítulo, de nome “Não basta escutar, tem que sentir”, onde Rafael parece se perder um pouco mais na sua representação de conceitos, bem como em erros gramaticais e de pontuação. A defesa da literatura, embasada na obra de jornalistas consagrados por sua escrita mais rebuscada, certamente é um ganho adicional à obra, bem como a sua sustentação em defesa do repórter como trabalhador engajado na construção do perfil literário e de leitura agradável, ainda que esse esteja “desaparecido” das redações mais próximas. São citações atrás de citações, e a impressão que mais toma forma é a da falta de consenso dentro do capítulo, pois uma sobreposição de teorias e academicismo não necessariamente torna o trabalho mais plausível de compreensão ou esclarecimento diante do tema. Pelo contrário.

“Perfil, o gerador de empatias” é o último capítulo e, justamente, aquele onde o autor se propõe a solucionar os problemas desse trabalho (e olha que são vários). Na busca por uma definição do principal papel desempenhado pelos perfis dentro das necessidades jornalísticas, são apresentados diversos pontos de vista. Integrante do gênero interpretativo, gerador de empatias e identificação, são as possibilidades atestadas, assim como a transformação da figura perfilada diante da sociedade após publicação. É interessante notar, ao longo do trabalho, a preocupação de Rafael com o lado humano do jornalismo, seja esse humanismo vindo da figura trabalhada em texto ou do próprio repórter, que enxerga e encontra verdades no outro de forma invariavelmente pessoal.


*Tema de casa pra PUCRS em cima de um TCC

4 comentários:

Anônimo disse...

Se tu conseguiu avacalhar tanto assim, espero que faça algo bem melhor e dê pra eu fazer uma resenha crítica depois... hihihi.
Beijo, querido
:*

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Que maravilha! É ótimo saber que alguém ainda lê a minha monografia. Concordo com vários aspectos da tua crítica, ela ficou parecendo um ensaio e não uma monografia. Sinceramente: tenho orgulho disto. Enfim, valeu pela leitura atenta. Ah, junto com ela entreguei uma folha com correções, hehhehe. Abração, Rafael Terra